domingo, 2 de dezembro de 2007

Hipérbole

Quero que cada momento da minha vida seja uma hipérbole.
Quero sentir tudo ao máximo, e viver com exagero.
Que de um copo d’água se faça sempre a tempestade, e que do primeiro raio de sol a furar a nuvem nasça o verão.
Pois é só morrendo de dor que se explode de alegria.


O que seria da felicidade sem a agonia?!


Que “Deus me livre!” ter uma vida de eufemismos, uma história mais-ou-menos. Me livre de "passar na média", mas não ser lembrada por nenhum mestre ou colega.

Adorem ou repudiem-me em absoluto. Não quero meias-mentiras, para jamais ter de engolir meias-verdades.

Quero a ousadia de uma lambada, o drama e a sensualidade de um tango, a energia do rock’n roll. Nunca a melancolia de um bolero ou a tácita beleza de uma valsa.


Quero um mundo vermelho, amarelo, preto, e rosa choque.


Ter vontade de morrer por esquecer algo importante, chorar containeres porque “ele não ligou”. Inventar mil fórmulas pra mudar o mundo em sete dias, gritar até ficar sem voz a mais ínfima das alegrias.


A diferença entre uma lágrima e um sorriso é a mesma entre o pranto e a gargalhada. No entanto, só a intensidade de um torna seu antônimo possível.



Manuela Prá

sábado, 24 de novembro de 2007

A deficiência está no coração

Quarta-feira, 2 de novembro de 2005.


Oi,
Eu sou deficiente.

Nasci nos anos 60 e sou vitima de uma sociedade preconceituosa.
Durante toda minha infância e adolescência vi pessoas, ditas anormais, serem escondidas e privadas do que chamam mundo civilizado.

Sou deficiente porque não sei como agir quando, hoje, me deparo com uma pessoa portadora de necessidades especiais. Não sei se devo olhar, cumprimentar ou simplesmente ignorar.
Na maioria das vezes finjo não ver, pois receio transparecer compaixão. Quando na verdade eu é que sou digna de piedade.

EU É QUE SOU DEFICIENTE.

Eles são pessoas especiais e têm algumas limitações.
Enquanto eu sou uma pessoa limitada.

Eu preciso de ajuda, minha geração precisa de ajuda,
A SOCIEDADE PRECISA DE AJUDA.



por Rosina Prá, minha mãe.




segunda-feira, 5 de novembro de 2007

oipócsodielaC


Brisa
vira vento.
Saudade vira vazio.
Paixão vira hábito, e sonhar...
Vira nada.

Eu viro adulta, e a vida...
Vira rotina.
Injustiça, desrespeito e violência não chocam mais, são só a realidade.

É o mundo está mesmo de cabeça para baixo.
Mas, e se “plantássemos bananeira”?
É! E se todo mundo plantasse bananeira?!

O vento é que seria brisa, e o vazio... Apenas saudade.
O hábito se tornaria paixão e do nada surgiriam grandes sonhos.
Não importa se velha, criança ou adulta eu vou ser sempre eu. E você, você.

Rotina, injustiça, desrespeito e violência podem fazer parte da vida, mas só vão ser a realidade se deixarmos.
As mudanças começam dentro de cada um.

Agora você é quem decide se vai continuar aí parado ou vai "plantar bananeira".



Manuela Prá

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Santificado seja o vosso nome

Na última semana a cidade de Tubarão(SC) foi palco de um espetáculo um tanto incomum. A beatificação de uma garota, que morreu em 1931 após uma tentativa de estupro, parou a cidade.

Cerca de 15 mil fiéis acompanharam, segundo cálculos da Polícia Militar, a cerimônia de beatificação da menina Albertina Berkenbrock, realizada na tarde deste sábado, na cidade de Tubarão, no sul de Santa Catarina. A celebração foi presidida por um cardeal do Vaticano e marcou o fim de uma espera de 55 anos. (Publicado pelo site de notícias TERRA.)

E todo esse estardalhaço serviu para encobrir um problema que dura muito mais que os 55 anos de espera pela beatificação. Por que enquanto todos esses fiéis, além de orarem, entoavam cânticos e prestigiavam o megaevento, deixavam de pensar nas milhares de Albertinas que morrem todos os anos no Brasil.

Beatificar “esta” não vai mudar nada além do turismo na região.
[E que maravilha, não?!

Quem não tem comida e educação continua sem, os pobres continuam pobres, bandidos estão foragidos porque as cadeias não seguram mais ninguém. O pânico se espalha pelas ruas e em poucos lugares se pode caminhar despreocupado depois do pôr-do-sol.

Mas, na Catedral de Tubarão tudo é festa. Churrasquinho e pipoca, bandeirolas, medalhinhas, santinhos e velas por todo lado. E essa política do pão e circo, que ao contrário da roupa de missa usada no domingo, não tem nada de nova, trouxe gente até de outros estados.

Pena que essa “galera” não se sinta motivada a lutar pelos seus direitos sócio-políticos. Que não tenham o mesmo fervor por exigir a aplicação justa do dinheiro dos impostos que pagamos. Uma lástima esses tantos não serem fiéis também à nação.

Parece difícil que tantas pessoas não consigam enxergar que orar numa igreja com bancos confortáveis e ventilador de teto, não vai mudar nada na vida de ninguém. E que enquanto alguns curtem o passeio da beatificação, outros brasileiros, que não são santos nem nada, trazem mãos e pés calejados, neste que talvez tenha sido o único dia de folga da semana. E as marcas não são flagelos da religião, são apenas resultado do trabalho duro destes mártires diários, que lutam “apenas” pela sua sobrevivência e por um punhado de dignidade.





Manuela Prá

sábado, 20 de outubro de 2007

Tédio

Não agüento mais. Preciso desabafar.

Sabe aqueles dias em que não tem nada ruim de verdade acontecendo, nem nada que valha ser contado ou mereça os créditos por te deixar mal?

Esses dias são mesmo muito desagradáveis. E eu estou tendo um deles, neste exato momento.

Não tenho vontade de falar, nem de derramar as lágrimas que deixam nublada minha visão.

A tristeza transparece e as perguntas de "O que houve?" só me deixam pior e até um pouco irritada.

Sinto-me mal, há pessoas com problemas de verdade e reclamar dos meus, que são insignificantes, não irá ajudá-las. Sou vítima de um sofrimento tipo Goethe, como no Werther, que amava e sofria sozinho, um sentimento gratuito e triste por excelência.

Mas no meu caso não é amor, e nem ao menos acredito que ele exista.

É tédio.

E cara, isso incomoda pra valer.

Porque tudo fica meio cinza e sem graça, e as coisas que ontem me fizeram sorrir, hoje não provocam nem uma sombra de alegria. Além de tudo, fica aquele gosto amargo na boca e parece que todas as palavras saem e soam assim.

Eu gostaria mesmo de desabafar, mas não quero parecer ridícula. Afinal nem tenho algo ruim de verdade para contar.

ENTÃO POR QUE DIABOS ESTOU ASSIM?

Vou escrever, é vou escrever.

Uma carta? Um texto? [Sou patética.]

Deus,...

Ah é, eu não acredito nele também.

Um texto então...

“O sol bate na janela e ilumina meu quarto, mas seus raios de alguma forma não me atingem...”

[Isso é mais patético ainda.]

Vou ligar pra alguém e contar o que estou sentindo! Não, eu não vou fazer isso. Eu nem sei o que estou sentindo. E não quero incomodar nenhuma das pessoas que atenderia ao telefone a essa hora e dedicariam seus ouvidos e preocupação a mim.

Vou ler um livro, adoro ler.

Tento, mas depois de ler a mesma frase por 7 vezes e ainda assim não saber nem o que estava escrito, desisti.

Resolvo ouvir uma música, mas desisto também.

Televisão? Não, televisão é uma @#$&¨%.

Ó aborrecimento que preenche meu dia, que há tanto nasceu e muito demora a acabar... Vá-se embora!

ha-ha.

Agora já chega! Não agüento mais. Tomei uma decisão. Vou dar um basta nesse tédio.

Vou sair da cama. Acho que tem um resto de suco de laranja na geladeira...







Manuela Prá