terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Um pouco de drama...

De que adianta ter estudado tanto?
De que adianta falar inglês?
De que adianta ter trabalhado tanto, em tantos horários, em tantos lugares sem às vezes nem mesmo receber algum dinheiro?
De que me servem as pilhas de livros devoradas em busca de conhecimento, de vocabulário, de um bom texto?
De que adianta a boa redação, os conhecimentos gramaticais e em edição?
A simpatia, a roupa bem escolhida e um punhado de frases prontas?

Se o que adianta de verdade é um bocado de belas curvas e alguma “boa” indicação.

Assinado Eu, alguém procura respostas para perguntas que sempre pareceram óbvias. Que seguiu um caminho mais complicado que os demais, dito pela maioria como o mais certo para o sucesso, e que agora só vê nessa receita - preparada com tanto esmero - um prato que ninguém quer nem experimentar.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Josué não é hippie

A barba por fazer é a única coisa que remete o dono da banca de artesanato hippie, no centro de Tubarão-SC, ao antigo movimento. A camiseta surrada e os jeans já rotos não lembram nem de longe a explosão de cores e liberdade da cultura do paz&amor.

Josué Luz tem 42 anos, e o artesanato, vendido de segunda a sexta, na banca, é a única fonte de renda dele e da mulher,também artesã.

“Já nasci em uma feira de artesanato” diz, sobre o fato de os pais terem lhe ensinado o ofício. Ninguém da família se opôs quando Josué começou a fazer e comercializar brincos e pulseiras.

Ele tem dois filhos, uma moça, hoje com 22 anos, e um garoto, de 11 anos. Quando pergunto se ele se importaria, caso os filhos quisessem seguir a mesma carreira do pai, Josué dá de ombros.

Ele conta que o filho mais novo adora desenhar. “O guri desenha legal, já mostra uma
veia artística, né?!”.

Ao falar sobre sua filha mais velha, ele sorri saudoso. “Ela faz faculdade, não mora comigo, está em Porto Alegre”. E antes de me responder que curso a moça faz, ele deixa escapar uma risada. “Ela vai ser jornalista”.

Enquanto conversamos, o movimento na banca não para. E entre interrupções, como “esse é dois (R$2), mas se levar três tem desconto!”, Josué volta a afirmar: “se um dos meus filhos quiser trabalhar com isso não vou me importar. É gostoso, não
cansa e dá uma grana legal”.

Josué e a esposa são gaúchos, de Porto Alegre. O que os trouxe a Tubarão? A velha Kombi em que moravam, eles e os filhos pequenos.

“Viajávamos de Porto para São Paulo até que a Kombi quebrou, bem aqui perto, na
BR-101. A pequena já estava em idade de ir para a escola, e o carro demorava a ficar pronto. Fomos ficando e ficando, e estamos aqui, até hoje”.

Do antigo veículo restam só as lembranças, tão fortes para a família, que acabou por adquirir uma nova Kombi. “A velha nós vendemos, mas comprei outra”.

Para matar as saudades, ele e a esposa ainda dormem na Kombi quando levam seus produtos para vender em rodeios e eventos religiosos, nos fins de semana.

“É um hábito nosso, e também para ganhar um extra”, conta sobre o trabalho fora das calçadas tubaronenses. Josué explica que eles adaptam a produção, fazendo desde rosários com sementes até artefatos em couro para atrair o público deste tipo de festa.

Ele também revela que a mídia contribui consideravelmente para as vendas. “Novelas
e reality shows sempre geram aumento na procura pelos nossos artesanatos quando têm personagens mais ‘alternativos’. Esta novela indiana que está passando está nos ajudando muito agora, temos vendido muitos brincos, anéis e pulseiras”, exemplifica
Josué, falando sobre o folhetim exibido no horário nobre da Rede Globo de Televisão.

Na cidade, muitos se referem ao local de trabalho de Josué como “banca do hippie”.
Mas quando questionado ele dispara: “Não sou hippie”, e diz que o movimento nunca existiu aqui. Em grande parte dos livros e sites que abordam o tema, o movimento é descrito como um evento que reuniu jovens norte-americanos, inicialmente, sob a
mesma ideologia, de usar a paz para acabar com desigualdades encontradas nos EUA, como a segregação racial. Acompanharam o estilo, que marcou a década de 70 e posteriormente se espalhou pelo mundo, de roupas extravagantes e assessórios artesanais, confeccionadas com materiais reaproveitados, o que reforçava o ideal da busca pela ligação com a natureza.

Mas Josué retifica: “os únicos hippies de verdade foram os jovens que se recusaram a
participar da Guerra do Vietnã. Sem documentos, eles passaram a fazer artesanato para poder se alimentar. Só esses foram realmente hippies”.

Josué também desabafa. “As pessoas têm muito preconceito”. Quando pergunto qual, ele
hesita.

“Ah...elas sentem pena, olham diferente, mas eu nem dou bola”. E faz graça ao dizer “melhor, elas ficam com ‘peninha’ e compram nossas peças ‘para ajudar’”.

O artesão adora seu trabalho, e exclama que se preocupa com o futuro. “Pago previdência e até comprei uma casa”.

Atualmente, Josué e a família moram em Laguna, na Vila das Laranjeiras, uma colônia de pescadores. Ele conta que o filho estuda com os filhos dos pescadores e já
está aprendendo a pegar peixes.

Peço uma frase para ele dizer ao mundo. Ele pensa por um momento e declara: “Matemática é poder”.

E a matemática a que ele se refere é a do dinheiro, de saber contar, empregar, vender e principalmente, a de se importar com este.

Algo que pode significar muito para a maioria das pessoas, mas é uma forma de poder que não interessa tanto ao Josué.

O artesão adora o que faz e revela que já fez cursos de carpintaria, que considera
uma forma de artesanato em maiores dimensões. O próximo passo? Josué pretende fazer um curso de carpintaria naval.

“Meu sonho... é terminar a vida em um navio...” [FIM]

quarta-feira, 24 de março de 2010

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Carta ao entrevistado negligente

Caro entrevistado,

Escrevo-lhe para agradecer pelo carinho e atenção a mim dedicados ao derrubar mais uma de minhas pautas.
A vida fácil que nós repórteres levamos, deve-se em muito a pessoas como você. É a sua consideração ao desmarcar 3 ou 4 minutos antes do horário combinado, seu dom de marcar conosco muito cedo, ou tão tarde a ponto de termos que fazer hora extra para preparar o material que conta com sua contribuição.
Claro que entendemos que você possui uma agenda própria, independente dos nossos compromissos, mas, assim como você, adoramos poder trabalhar.
Sim, por mais incrível que lhe pareça, ser: repórter, jornalista, radialista, “cara” da TV, do rádio ou do jornal, como queira, é uma profissão. E precisamos de sua declaração.
Contribuir com uma matéria não é favor para nós, os profissionais da área, é exercer um direito cidadão. É esclarecer dúvidas, semear a justiça, incentivar o desenvolvimento, fazer rir, fazer chorar, alertar, enfim ajudar a melhorar, da forma que lhe cabe, o mundo em que VOCÊ vive.
O que lhe peço leva entre 5 e 10 minutos, e embora você não acredite nisso, o trabalho dos jornalistas ajuda a sociedade, e o mais importante, é um trabalho.
Então, meu amigo, da próxima vez que for simplesmente deixar de lado nossa antecipadamente marcada entrevista, pense que eu me preparo já há dias para lhe fazer tais perguntas, que já agendei outras declarações para somar a sua, já conversei com meu chefe sobre ela e o principal, abri um espaço na edição que espera pela pauta que depende de você. Meu tempo para encontrar outro tema, outros entrevistados, preparar um material diferente é tão curto quanto o seu para estar de bom-humor novamente, para pentear o cabelo ou maquiar-se, para terminar aquele relatório incrível para amanhã e tantas outras desculpas.



Obrigada pela atenção, que desta vez você me deu.

Ass. Eu, jornalista impedida de reportar a sua opinião,
mas com direito a expressar a minha.





Manuela Prá

Inova Ação

Na incansável busca pela produção de algo que seja atrativo ao maior número possível de receptores, o diferente, em qualquer área, ainda parece a melhor opção.
No entanto, toda criação exige tempo, dedicação, esforço e recursos. Material nada fácil de se dispor na atualidade.
No jornalismo de hoje é preciso produzir, e em grande quantidade. Utilizar as “receitas texto” feijão-com-arroz podem atender aos requisitos da atividade comercial, mas deixam tudo igual, amortecem o público, amornam a sociedade.
Os relatos, cada vez mais uma colagem de declarações, surgem menos trabalhados, um amontoado de palavras que nada provocam em ninguém.
Como qualquer estudante universitário e cheio da mais pura utopia, percebo que a chave para mudança é sair do comum. Nada de “inventar moda”, mas jornalismo é para cutucar.
De que adianta produzir algo que não provoque nada em ninguém? Certa vez, o cantor e compositor Humberto Gessinger disse que existem dois tipos de música, aquela que ouvimos e temos vontade de levantar para aumentar o volume, e aquela que fica como simples pano de fundo.
Em jornalismo é o mesmo. Nossa tarefa é contar história de gente, e para gente, é ter nas mãos o poder de mudar, de irritar e agradar, comover e motivar. Enfim, é fazer pensar e algo tão grandioso não pode ser feito de qualquer jeito. Que estejamos livres de uma produção que não seja capaz de nem ao menos franzir a testa de alguém.

Manuela Prá

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

I wish you were...BEER.

“So,
So you think you can tell…”

Eu queria mesmo que você fosse cerveja.

Queria mesmo poder te beber, digerir e expelir.

Da minha vida...da minha história.

Não para me afogar em copos e mais copos...mas, para simplesmente consumir...aproveitar aquilo que é bom...

[na hora em que é bom]

e depois...depois botar para fora sem nem perceber, me livrar de tudo isso...para sempre.

Como eu queria...não pensar em todas as mentiras, na desilusão, na negligência. Como eu queria...não pensar naquilo que machuca.

“Heaven from Hell,
Blue skies from pain…”

Aquilo que sufoca são as lembranças…não as ruins,

[essas funcionam como água fria em queimaduras]

O que dilacera...são as boas.

As malditas boas lembranças. Porque agora...elas parecem tão distantes, porque agora elas são confusas realidades distorcidas...e eu realmente não sei, não sei se não foi tudo fruto da minha imaginação, fruto da minha paixão.

Paixão, que se foi e não deixou nada além de um vazio, do céu [passado, irreal ou não], ao inferno...[que tem se feito tão presente]. Céus azuis...de felicidade, risos..que soam como música...como esta música...cortados por tanta dor, manchados pela palavra quebrada. Feridos pela covardia e pelo comodismo.

Eu que tanto lutei...não tenho do que me orgulhar.

“A walk on part in the war
For a lead role in a cage?...”

Como eu queria…como queria que você estivesse aqui...mas quem é você? Nem mesmo o reconheço. O que restou de nós? O que fomos nós? A desilusão substitui a saudade. A vontade de ser feliz de novo [o que já não nos era possível] pelo rancor. Esse passado tão recente,uma ferida aberta...pelo futuro, próximo, aquele que vem com a certeza de quem em breve...tudo se fechará e com outras pessoas, se repetirá.

Em breve, viveremos tudo novamente...no entanto, nunca mais seremos “nós”.

“We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?
The same old fears…”

Wish you were…just beer.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Comunicação Comparada

Caos cria comunicação, constrói civilização, caracteriza coisas comuns.

Crescimento cultural?

Capitu comercial.

Cavalo-de-tróia comunidade corrompe.

Comida com circo? Credo!

Cabeça cheia? Corpo cansado?

Cobrindo criados-mudos, cabine capitalista.

Covarde condena. Corajoso combate.

Comunicação constrói caos.

Catastrófica criação congela coração.

Crenças?

Costumes?

Coisas?

Casa cheia. Corpos chapados. Cabeças caladas.

Chega!

Converse, crie, comunique-se.

Corte caixa coisificadora.


Cabeças criadoras: Cucas Cemos, Canuela Crá, Culie Cenegaz.