sexta-feira, 17 de julho de 2009

Carta ao entrevistado negligente

Caro entrevistado,

Escrevo-lhe para agradecer pelo carinho e atenção a mim dedicados ao derrubar mais uma de minhas pautas.
A vida fácil que nós repórteres levamos, deve-se em muito a pessoas como você. É a sua consideração ao desmarcar 3 ou 4 minutos antes do horário combinado, seu dom de marcar conosco muito cedo, ou tão tarde a ponto de termos que fazer hora extra para preparar o material que conta com sua contribuição.
Claro que entendemos que você possui uma agenda própria, independente dos nossos compromissos, mas, assim como você, adoramos poder trabalhar.
Sim, por mais incrível que lhe pareça, ser: repórter, jornalista, radialista, “cara” da TV, do rádio ou do jornal, como queira, é uma profissão. E precisamos de sua declaração.
Contribuir com uma matéria não é favor para nós, os profissionais da área, é exercer um direito cidadão. É esclarecer dúvidas, semear a justiça, incentivar o desenvolvimento, fazer rir, fazer chorar, alertar, enfim ajudar a melhorar, da forma que lhe cabe, o mundo em que VOCÊ vive.
O que lhe peço leva entre 5 e 10 minutos, e embora você não acredite nisso, o trabalho dos jornalistas ajuda a sociedade, e o mais importante, é um trabalho.
Então, meu amigo, da próxima vez que for simplesmente deixar de lado nossa antecipadamente marcada entrevista, pense que eu me preparo já há dias para lhe fazer tais perguntas, que já agendei outras declarações para somar a sua, já conversei com meu chefe sobre ela e o principal, abri um espaço na edição que espera pela pauta que depende de você. Meu tempo para encontrar outro tema, outros entrevistados, preparar um material diferente é tão curto quanto o seu para estar de bom-humor novamente, para pentear o cabelo ou maquiar-se, para terminar aquele relatório incrível para amanhã e tantas outras desculpas.



Obrigada pela atenção, que desta vez você me deu.

Ass. Eu, jornalista impedida de reportar a sua opinião,
mas com direito a expressar a minha.





Manuela Prá

Um comentário:

Raul disse...

Os entrevistados e seu egocentrismo... Mal sabem que podem ser tão descartaveis quanto pratinhos de festa infantil.
Muito bom o texto. Parabéns!