quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Santificado seja o vosso nome

Na última semana a cidade de Tubarão(SC) foi palco de um espetáculo um tanto incomum. A beatificação de uma garota, que morreu em 1931 após uma tentativa de estupro, parou a cidade.

Cerca de 15 mil fiéis acompanharam, segundo cálculos da Polícia Militar, a cerimônia de beatificação da menina Albertina Berkenbrock, realizada na tarde deste sábado, na cidade de Tubarão, no sul de Santa Catarina. A celebração foi presidida por um cardeal do Vaticano e marcou o fim de uma espera de 55 anos. (Publicado pelo site de notícias TERRA.)

E todo esse estardalhaço serviu para encobrir um problema que dura muito mais que os 55 anos de espera pela beatificação. Por que enquanto todos esses fiéis, além de orarem, entoavam cânticos e prestigiavam o megaevento, deixavam de pensar nas milhares de Albertinas que morrem todos os anos no Brasil.

Beatificar “esta” não vai mudar nada além do turismo na região.
[E que maravilha, não?!

Quem não tem comida e educação continua sem, os pobres continuam pobres, bandidos estão foragidos porque as cadeias não seguram mais ninguém. O pânico se espalha pelas ruas e em poucos lugares se pode caminhar despreocupado depois do pôr-do-sol.

Mas, na Catedral de Tubarão tudo é festa. Churrasquinho e pipoca, bandeirolas, medalhinhas, santinhos e velas por todo lado. E essa política do pão e circo, que ao contrário da roupa de missa usada no domingo, não tem nada de nova, trouxe gente até de outros estados.

Pena que essa “galera” não se sinta motivada a lutar pelos seus direitos sócio-políticos. Que não tenham o mesmo fervor por exigir a aplicação justa do dinheiro dos impostos que pagamos. Uma lástima esses tantos não serem fiéis também à nação.

Parece difícil que tantas pessoas não consigam enxergar que orar numa igreja com bancos confortáveis e ventilador de teto, não vai mudar nada na vida de ninguém. E que enquanto alguns curtem o passeio da beatificação, outros brasileiros, que não são santos nem nada, trazem mãos e pés calejados, neste que talvez tenha sido o único dia de folga da semana. E as marcas não são flagelos da religião, são apenas resultado do trabalho duro destes mártires diários, que lutam “apenas” pela sua sobrevivência e por um punhado de dignidade.





Manuela Prá

3 comentários:

Unknown disse...

Como eu já disse antes, crítica ácida heim? mas concordo com você, existem várias ..(esqueci o nome da guria aheuaeh) por aí e nínguem da bola pra elas, como também várias pessoas que merecem o título de santos ou santas mas vivem no esquecimento.
=* manu

hikrinho disse...

Bem, também me revolto com esta falta de reação da população em relação com a política, com a corrupção, com o que realmente merece grande atenção e grande mobilização.
Mas, eu enxergo uma diferença entre esta garota, agora beata, e outras que como ela também perdem a vida injustamente, todos os dias.
Albertina tem um certo valor para algumas pessoas, elas acreditam que orar pra ela lhes renderá algo, que suas súplicas seram atendidas. Apesar de eu não ter lido o livro "O Segredo", sei que ele tratá de algo parecido. Algumas pessoas acreditam numa falsa verdade com tanta força que para eles aquilo realmente é uma verdade. Que seja, se isto lhes rende um sentimento bom, algum valor, não me importo.
Só não admito que a igreja e os sentimentos destas pessoas sejam usados pra ganhar dinheiro, pra arrecadar, e hoje em dia a igreja pra mim é isso, uma empresa super rentável.
¬¬

Fabiana Pangrácio disse...

Baixou o Prates em ti, um pouco menos insultosa sua criítica comparada com a dele, mas, caminham lado a lado! Estais certíssima! A pena é que um, ou dois, terem consciência disso tbm não muda nda! O que nos resta é só criticar mesmo, e fazer nosso trabalho!
Beijo Manu